Traduzindo Poesia & Vozes Queer #16— Fragmento 31 de Safo de Lesbos

Eduardo Cardoso
4 min readJun 6, 2021

Safo de Lesbos (Σαπφώ) foi uma poeta mélica e musicista grega, nascida na cidade de Mitilene — ilha de Lesbos, filha de aristocratas locais e que viveu por volta de 630 a.C. até 570 a.C., durante o período arcaico da Grécia. Considerada pelo filósofo clássico Platão como a “décima musa”, não se sabe demasiadamente sobre a vida pessoal de Safo e boa parte de sua obra poética nos chegaram em forma fragmentária, referenciada pelos estudiosos helenistas como corpus sáfico.

No entanto, sabe-se que a poeta produziu e performou, possivelmente, suas composições publicamente em Mitilene, que seria um possível indício da diferença da vida social das mulheres entre as cidades de Mitilene e Atenas por exemplo (lembrem-se que ainda estamos falando de uma sociedade patriarcal aqui); apesar de estudiosos não terem uma ideia concreta de como o círculo da sociedade em Lesbos funcionava. Estudiosos acreditam que Safo foi uma educadora e que seus poemas, como hinos e ritos de passagem, tenham um propósito afim de educar jovens mulheres à vida na sociedade de Mitilene. Seu nome ficou associado com o estilo de métrica usado pelos poetas de Lesbos antes, durante e depois de Safo — como Alceu, seu contemporâneo, por exemplo — conhecida como estofe sáfica.

Além de ser uma mulher poeta inserida dentro de uma sociedade patriarcal, Safo, ao que nos indica, teve relações amorosas com outras mulheres e também aparece indícios de sua sexualidade em suas obras: em um dos seus fragmentos mais famosos, intitulado Fragmento 31, Safo canta sobre o amor que sente por uma mulher está sendo cortejada por um varão que está “a par dos deuses”. Apesar de alguns debates sobre a sexualidade da poeta desde o ressurgimento de suas obras, a significância cultural de Safo foi tamanha que ajudou a cunhar o termo lésbica (e afins) que usado até hoje para definir o amor entre duas mulheres.

Há registros que relatam que Safo se exilou para a colônia grega da Sicília por volta de 590 a.C., talvez ou não por pressões políticas, onde viveu até a seu falecimento. Apesar de boa parte do corpus sáfico se encontra bastante fragmentada, a poeta foi bastante influente na Antiguidade greco-romana, o poeta latino Catulo até fez alusão à ela, e, com a redescoberta de seus poemas durante o renascimento, apresenta uma significância histórica bastante importante até os dias de hoje.

No Brasil, todos os fragmentos do corpus sáfico foram publicado em uma edição chamada Fragmentos completos da Editora 34 e com tradução de Guilherme Gontijo Flores.

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Disclaimer: trata-se de uma tentativa de tradução poética, ou seja, é uma tradução que busca recriar certos elementos poéticos da língua fonte (grego antigo) para a língua alvo (português brasileiro); dessa forma, é uma tradução que não busca ser totalmente literal. Esta tradução não tem nenhuma intenção ou vínculo comercial.

Sobre a prática tradutória: a tradução apresentada aqui se trata de uma revisão de uma atividade realizada na faculdade em que traduzi o Fragmento 31 de Safo.

Na ocasião, se travava de uma tradução escolar, então tentei adaptar o texto de chegada para uma tradução menos literal do texto de partida, encaixando um pouco no perfil das traduções do projeto; e fugir ao máximo de qualquer contaminação possível das várias traduções existentes em português brasileiro desse poema.

Tendo em mente que o poema em grego foi composto para ser cantado, tentei utilizar de assonância e de aliteração para trazer um ar mais musical à tradução, apesar eu não usar uma métrica estritamente definida, como o verso decassílabo, no texto de chegada e tentar recriar a “mancha gráfica” do poema. Outro aspecto que tentei recriar na tradução foi a quebra sintética dos versos, uma vez que era bastante importante para fluência e declamação da obra de partida.

O texto fonte do poema Fragmento 31 de Safo de Lesbos foi retirado da edição crítica de Eva-Maria Voigt sobre Safo e Alceu: “Sappho et Alcaeus; fragmenta”, publicado pela na edição de 1971.

Para saber mais sobre Safo de Lesbos:

SAFO. Fragmentos Completos (org.,trad., introdução: Guilherme Gontijo Flores). São Paulo: Editora 34, 2017, 1a edição;

VOIGT, Eva-Maria (org.) Sappho et Alcaeus; fragmenta. Netherlands: Polak & Van Gennep, 1971;

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Eduardo Cardoso

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